sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P530: Frutos Proibidos (Zé Teixeira)

Guiné-Bissau > Saltinho > A sobrinha do Mudé Embaló (1)
© José Teixeira (2005)

Com a minha preocupação em rever a Binta da Chamarra, gerei algum movimento nas mulheres de Sinchã Sambel. Ninguém me soube dizer o que era feita dela, mas apareceu o filha da outra a bater-se ao lugar, na ambição de vir a conhecer o pai e sacar algum.

No dia em que deixei o Saltinho, sei que a Awá de Mampatá, irmã da outra, a Binta Bobo, ia lá visitar-me. Só que eu saí de madrugada, mas fiquei com pena. Do pouco que conversei com a Dadá, mulher do Régulo, os filhos de brancos foram bem aceites e estão integrados nas comunidades locais.

Eu conheci mal a história da Binta da Chamarra. Quando fui colocado lá, já ela tinha engravidado e ido para Quebo. O Catarino (enfermeiro que esteve lá antes de mim) é que sabe bem da sua história e foi a pedido dele que a tentei reencontrar.

Em Empada havia uma mulher da raça papel que tinha um filho de branco e estava perfeitamente integrada na sua comunidade.

Em 1975, já em Bissau, o guinéu que nos tratou do embarque, era filho de branco e mostrou muito interesse em localizar o pai que, segundo ele, devia morar aqui em Leça do Balio. Parece que chegou a corresponder-se com uma irmã do pai, mas perdeu a ligação. Este jovem tinha um bom emprego e apenas gostava de conhecer o pai. Ainda tentei localizar o rastro, mas nos registos desta terra não existia ninguém com o nome que ele me deu.

Guiné-Bissau > Empada > 2005 > O Zé Teixeira com um antigo milícia e a sua filha.
© José Teixeira (2005)

Creio que este também é um tema com muito interesse para o Blogue. Recordo apenas o que aconteceu em Mampatá. O Alferes, comandante do Destacamento, logo no primeiro dia que lá estacionamos, reuniu o pelotão e teve uma conversinha:
- Amigos, todos somos homens e aqui há muitas mulheres. Estamos aqui para voltarmos para a Metrópole e só o conseguiremos se não arranjarmos sarilhos... Eu não quero sarilhos de saias. Cada um que se desenrrasque como puder e souber. Porém se houver algum problema, eu serei duro, porque não aceito que um de nós possa pôr a vida de todos em perigo, por atitudes menos sensatas.

Foi mais ou menos isto o que o Alferes Costa Belo disse à sua gente. A relação durante seis meses foi excelente e, como já passou no blogue, eu até tive um milícia que me ofereceu a mulher para me pagar, pelo facto de ter enviado o pai para Bissau e assim lhe ter dado mais uns anos de vida.

Houve situações difíceis de ultrapassar. É que o raio das bajudas eram lindas como o sol, com um corpinho! Ai . . . está-me a crescer água na boca.

Um abraço
Zé Teixeira
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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXIII: Estórias do Zé Teixeira (1): Dôtor, Bô ka lembra di mim ?

"Passados largos anos, após o regresso da guerra, recebi um telefonema do Dr. Azevedo Franco, meu querido amigo, médico, que fez grande parte da sua comissão em Buba. Tinha-lhe aparecido no Hospital o Mudé Embaló e não tinha soluções de futuro para o puto.

"O Mudé tinha-se iniciado, como ajudante de fermero, com onze/doze anos, na Chamarra, com o meu colega de Companhia, Jorge Catarino que lá se encontrava integrado no seu pelotão (...)".

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