sábado, 18 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P537: A minha estória é tão pequenina (Zé Teixeira)


Guiné > Mampatá > 1968 > "Foto da minha psico com a Awá de Mampatá".
© José Teixeira (2006)

Luís: A paz, a saúde e a felicidade estejam contigo.

"A minha estória é tão pequenina !"... Agora deixaste-me baralhado.

Que é que eu sinto perante as situações que os camaradas viveram ?

Todos nós que passamos pela guerra vivemos momentos muito dificeis, mas uns sofreram mais que outros. Eu, nos seis meses que estive em Mampatá Forea, sofri cinco ataques e só um ou dois com algum perigo, mas sentia que os camaradas que estacionavam em Gandembel, Guiledje, Gadamael, Cacine, Saltinho, Xitole, etc estavam a comer pancada todos os dias e todas as noites.

A minha Companhia fazia as malfadas colunas e via-os passar. As companhias que faziam as grandes operações, sofriam na pele o desgaste fisico emocional e ofereciam a vida. Tantos que lá ficaram ! Isto é, perante esta realidade eu estava a passar umas férias em Mampatá.

Claro que tive outras oportunidades, a de ser eu mesmo, despido da farda da guerra, junto daquela população. Que bom foi para mim !

Quando eu faço aquela afirmação é neste sentido e mais nada. Naturalmente que me sinto pequenino perante as situações que o Zé Neto, o Mário Dias, o Rui Felicio, o Mário Reis e tu mesmo viveram.

Lógico que admiro a forma como estás a gerir o Blogue. Preocupas-te com todos e com tudo o que se passou. É que não se viveram só momentos de guerra, de aflição, dificeis e marcantes pela negativa. Houve muitos momentos que construiram as nossas vidas durante cerca de dois anos.

Momentos felizes, de aventura, de realização pessoal. Ora, é isto que tu tens vindo a
passar.

Em pequenas parcelas, vais construindo um todo colectivo que reflete uma forma de estar. O que é muito mais que uma guerra. São vidas que se cruzaram no tempo e construiram um tempo, o qual vai ficar na história e, é preciso que esta história seja a verdadeira e não a criada pelos poetas, ficcionistas e romancistas e muito menos pelos políticos.

Com a tua iniciativa, a tua doação sem medida, isso pode e deve ser uma realidade.

Espero que entendas o meu estado de espírito. Aceita um abraço emocionado neste preciso momento em que te escrevo. Conheço-te há meia dúzia de dias, mas és um meu irmão de coração.

Zé Teixeira

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