sábado, 31 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P389: Tabanca Grande: Jorge Tavares, ex-Fur Mil Radiomontador do BCAÇ 2856 - A doce nostalgia de Bafatá

Caro Luís Graça,

Tomei conhecimento do seu site sobre a Guiné, o que me deu uma certa nostalgia do tempo que por lá passei.

Sou o ex-Furriel Miliciano Tavares, Radiomontador, do Batalhão de Caçadores 2856 que esteve em Bafatá, de 1968 a 1970.

Junto em anexo algumas fotos dessa altura e que, caso tenham interesse para juntar ao site, está por mim autorizado a fazê-lo. Tenho mais exemplares caso esteja interessado, mas são fotos de grupo, em lazer.

A referência das fotos vai embebida nas propriedades das mesmas.

Com os melhores cumprimentos e os votos de Boas Festas,
Jorge Tavares


1. Comentário de L.G.:

Tenho um especial afecto pela doce Bafatá que eu conheci ao longo da minha comissão, na CCAÇ 12 (1969/71). Bafatá era a única escapadela que nós tínhamos, nos escassos intervalos da nossa intensa actividade operacional no Sector L1 (Bambadinca). Muitas vezes à civil e sem armas, lá arrancávamos nós, de Bambadinca, de manhã cedo, a caminho do "bife com batatas fritas" da Transmontana e das nossas amigas de Bafatá (Quem não se lembra da alegre e doce Helena, amante de inúmeros batalhões que passaram pela zona leste, que eu um dia destes vou pôr na galeria dos meus heróis da guerra colonial ?!... ).

Pois fico muito sensibilizado com a vinda de mais um tertuliano, ainda por cima da zona leste, da minha zona, do chão fula, da terra dos meus nharros... É muito provável que eu e o Jorge nos tenhamos cruzado em Bafatá. De qualquer modo, estou-te muito obrigado pelas fotos que nos enviaste e que vão, seguramente, enriquececer a memória desse lugar que ainda temos no coração e que era a Bafatá, de pitorescas casas colonais, de ruas direitas e limpinhas, de gente afável e tranquila, que nós ainda tivémos o privilégio de conhecer...
Jorge: está intimado a voltar a comparecer aqui, depois do Ano Novo!... E, como já, percebeste, nesta tertúlia todos os camaradas e amigos se tratam por tu... É um das poucas regras que temos e que respeitamos.

Guiné > Bafatá > 1968> A rua principal (alcatroada, como todas as demais) da doce e tranquila Bafatá, com as suas casas de arquitectura tipicamente colonial. Ao fundo era o mercado e cortava-se à direita, para a piscina. Na primeira à direita, ficava o Restaurante A Transmontana. Do lado esquerdo, no início da foto, ficava a casa do Administrador e os CTT. A meio, a rua era cortada pela estrada que ligava a Geba (Reconstituição do Humberto Reis).


A bordo do navio (Niassa ou Uíge), a caminho da Guiné > 1968 > Furriéis milicianos da CCS do BCAC 2856 (Bafatá, 1968/70). O Jorge Tavares é o segundo, a contar da direita. E o Manuel Cruz é o primeiro, do lado esquerdo.


Guiné > Bissau > Outubro de 1968 > Pessoal do BCAÇ 2856, à chegada ... O Jorge Tavares é o que está com a mão à cintura, expondo o relógio e o anel de casado, a seguir ao porta-estandarte... (Reconstituição do Humberto Reis).

Guiné >Bissau > 1968 > Desfile, à chegada, do BCAÇ 2856, colocado em Bafatá, Zona Leste

Guiné > Bafatá > Messe de sargentos >A Jantar de Natal de 1968 > Pessoal da CCS do BCaç 2856 em confraternização. "Da esqerda para a direita: fur mil Sousa e Silva, fur mil Abrantes, fur mil Cabrita, fur mil Abrantes, fur mil Cruz (Shemeiks), fur mil Ramalho, cabo corneteiro (?), fur mil Pinto, fur mil pelotão de morteiros (?), fur mil pelotão de morteiros Subtil, fur mil Pereira, fur mil Saúde, fur mil Cruz, fur mil Guilherme (Rodinhas), eu (fur mil Tavares) e fur mil Carneiro. Os nomes que faltam, pedi ajuda ao Cruz mas a memória já não nos ajuda" (Jorge Tavares).

Guiné > Bafatá > O furriel miliciano de transmissões Tavares, da CCS do BCAÇ 2856 (1968/70), à civil, no Jardim de Bafatá... Com o Rio Geba ao fundo.


2. Comentário de Humberto Reis:
Jorge Tavares

Sê BEM VINDO a esta Tertúlia. Tu se calhar tu não te lembras de mim mas eu recordo-me de ti. Moravas ali para a zona do Rego (em Lisboa, para os que não conhecem) e foste meu contemporâneo na Escola Industrial Afonso Domingues , no fim da década de 50 princípio da de 60. Apanhavas o comboio no Rego até Marvila para ires para a escola e eu já vinha no comboio desde Campolide.
É daí, de Campolide, do tempo da Escola Primária nº 13, na Rua das Amoreiras, que conheço o Manuel Evaristo Trindade Cruz, que casou com uma das libanesas, filha da D. Rosa, e era o furriel miliciano sapador da CCS do teu Batalhão.
Como vês isto é uma Aldeia Grande e ao fim de 45 anos voltamos a contactar. Nas fotos não consta nenhuma legenda identificativa dos elementos que lá aparecem, mas tu és o 2º a contar da direita.
Um Grande Abraço de Boas Vindas
Humberto Reis


3. Respoosta do Jorge Tavares:

Caro Humberto,

Fiquei surpreendido pela tua memória. De facto sou quem tu dizes, ou seja morava no Rêgo e andei na Afonso Domingues de 57 a 60. Peço desculpa por a minha memória não ser tão boa como a tua, mas não me recordo de ti dessa época. Eu era muito novo e acompanhava o meu irmão e os seus colegas. Ele era mais velho e andava um ano à minha frente. Penso que és capaz de te recordares dele porque era conhecido pelo “capicua”. Infelizmente faleceu em Agosto de morte súbita.
Volto a enviar a foto do jantar de Natal de 1968 na messe de sargentos com a respectiva leghenda (...)., a qual passo a legendar: nomes que faltam, pedi ajuda ao Cruz mas a memória já não nos ajuda. Nas outras fotos, caso estejas interessado, também é possível identificar alguns camaradas.

Créditos fotográficos:  Jorge Tavares (2005)

Guiné 63/74 - P388: Em perigos e guerras esforçados... (Afonso Sousa)


Guiné > Barro > 1970 (?) > Monumento em homenagem ao 1º Cabo Enfermeiro João Baptista da Slva, da CART 2412, morto em combate, em Bigene, em 21 de Setembro de 1968.

Mandado erigir, em Barro, pela CART 2412 (1968/70)

© Afonso M. F. Sousa (2005)

1. Achei bonito o gesto do nosso camarada Afonso Sousa (ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412, que andou por Bigene, Binta, Guidage e Barro, nos já longínquos anos de 1968/70) de se lembrar de um camarada morto em combate, em Bigene, e que os seus camaradas não quiseram esquecer, erigindo-lhe um singelo monumento de homenagem... (Será que resistiu ao tempo e às intermitências da guerra e da paz, do ódio e do amor ? Será que ainda hoje pode ser fotografado em Barro ?).

Raramente falamos deles, dos nossos mortos, dos mais de dois mil camaradas que não voltaram connosco, na viagem de regresso à pátra, a casa (e dos quais cerca de 1240 cairam em combate).
No final do ano de 2005, no ano da fundação da nossa tertúlia de amigos e camaradas da Guiné, é bonito, e mais do que bonito, é justo que nos lembremos dos nossos mortos. Há muitas maneiras de os evocar, pela imagem e pela palavra. E quem souber rezar, que reze (sempre) por eles. Eu, que não sou crente, também rezo por eles, à minha maneira, trazendo aqui, e por sugestão do Afonso Sousa, as duas primeiras estrofes do Canto I dos Lusíadas, do nosso genial (e às vezes tão mal amdado...) Luís de Camões:

As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando;
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Os Lusíadas (I, 1-2)

A presente foto também foi inserida na página do nosso camarada Jorge Santos, sobre A Guerra Colonial, na secção "Monumentos", por sugestão do Afonso Sousa, iniciativa de um e outro que eu sou o primeiro a aplaudir. L.G.

2. Mensagem do Afonso Sousa:

Obrigado ao "grande" Luis Graça pela gentileza das palavras que teve a amabilidade de inserir como moldura desta lembrança singela.

Para o fim a que nos propusemos não poderiamos ter tido melhor sorte. O Luis é o homem certo no lugar certo ! ...e reparem que estes trabalhos já são referência na WIKIPÉDIA !...

Já agora aproveitava para pedir ao querido amigo A. Marques Lopes se poderia confirmar-nos se na sua última estada em Barro pôde verificar se este monumento ainda lá existia (situava-se junto à picada Bigene-Barro, a cerca de 50 m do edifício da secretaria e comando, para o lado de Bigene e logo a seguir à enorme mangueira contígua ao edifício).

3. Resposta do A. Marques Lopes:

Amigo Afonso Sousa

Não, esse monumento já não estava lá em 1998, quando estive em Barro. Na altura não deu para falar sobre essas coisas (eu desconhecia, aliás, a existência desse monumento). Mas estou a projectar voltar lá em Março deste ano de 2006, desta vez com mais calma, assim espero. Hei-de perguntar ao Cacuto Seidi (se é que ainda está vivo...) ou a quaisquer outros como é que ele desapareceu e hei-de tirar fotografia do local.

Abraços
A. Marques Lopes

Guiné 63/74 - P387: Estórias do Zé Teixeira (1): Maimuna, uma história de amor (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)


Guiné > Mampatá (1)> 1968> O 1º cabo enfermeiro Teixeira (CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70), com a sua inseparável amiguinha Maimuna.

© José Teixeira (2005)

A minha homenagem à Maimuna, minha mascote que durante seis meses foi a minha companheira de todos os dias.

A Maimuna (2) tinha oito luas quando cheguei a Mampatá. Pretinha como carvão, um carrapito e um sorriso sempre que lhe fazia festas. Cativou-me e transformei-a na minha mascote. A casa da Answar, sua mãe era paredes meias com a enfermaria, isto é, o coberto onde montava todos os dias a enfermaria. A parede era de canas entrelaçadas, pelo que se ouvia tudo de um e outro lado.

Tudo começou, quando a avó da Maimuna, logo no dia seguinte à minha chegada me traz a menina:

- Minina e na tourse - dizia-me ela apontando para a garganta da bébé e tentando imitar uma pessoa a tossir. Custou-me a entender a velhinha, pedi ajuda a um Milicia e ele respondeu-me:

- Garganta de minina e na dê tourse, tourse -. De facto a bébé tinha os brônquios inflamados. Dei-lhe uma colher de xarope para a tosse e mandei-a vir três vezes por dia à enfermaria. Só tinha um frasco de antitússico e se lho desse era certo que quando chegasse a casa lho dava por inteiro de imediato para curar mais depressa.

Assim durante três dias tive a Maimuna no meu colo quatro vezes por dia e como ficou boa a mãe ofereceu-ma para minha mulher. Como o xarope era doce, ela vinha ao meu colo toda contente e habituou-se à minha pessoa e ao nome "Fermero". Então quando estava a chorar a mãe dizia-lhe:

- Cá na chora, Fermero e na vem (Não chores mais que vem aí o enfermeiro) . - A menina calava-se ficando a procurar com os olhos a minha pessoa. Quando saía a passear pela tabanca ou visitar os meus colegas aos postos de vigia, pegava na Maimuna ao ombro, ela, toda nua, agarrava-me uma orelha e lá ia toda contente. Habitou-se a ouvir o meu assobio e quando estava a chorar bastava eu assobiar, de cá de fora, para se calar. Aprendeu a rastejar e vinha ter comigo. Depois ensinei-a a andar. Passava tardes inteiras a brincar com ela e com a minha criação de camaleões.

Guiné > Mampatá (1)> 1968> O 1º cabo enfermeiro Teixeira (CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70), noutra foto, com a Maimuna.

© José Teixeira (2005)

Há dias levei-a para o meu abrigo e como eram horas de ela dormir deitei-a na minha cama, ficando ao lado dela. Armou um berreiro e tive de a levar à mãe e então compreendi a razão do choro. A mãe disse-me:

- Leva-a e deita-a atrás de ti de modo a que se possa agarrar às tuas costas . - Assim fiz e a menina dormiu um grande sono que eu acompanhei. Simplesmente, a mãe à noite dormia com a menina amarrada às costas, tal como é costume de dia quando andam a trabalhar, mas por razões diferentes, ou seja se houvesse um ataque tinham de fugir para o abrigo subterrâneo, por sinal ao lado do Posto de rádio e assim, com a menina amarrada às costas, não corria o perigo de na precipitação da fuga deixar a menina sem protecção.
________

(1) No sul da Guiné, a sudeste de Buba, junto a Aldeia Formosa (Quebo)

(2) – Deixem passar este poema que dedico à Maimuna, trinta anos depois …

MAIMUNA

Um amor que encontrei,
Me acompanhou e viveu,
Como eu.
A guerra que não queria,
Mas sentia,
Nas corridas para o abrigo,
Da mãe que fugia ao perigo.

Comigo aprendeste a andar,
No meio de balas, granadas,
Minas, na tua terra, semeadas.
Perigosas bonecas para o teu brincar.
E só de pensar,
Meu coração tremia
Que uma bala perdida,
Tua vida fosse roubar.

Eras a esperança.
O futuro que não queria perder.
Foste razão do meu viver,
Quando aos ombros
Percorrias, comigo, os escombros.
Da guerra que nos fazia sofrer.

Abandonei-te
à guerra fugi.
Mas hoje,
Trinta anos depois, ainda gosto de ti.

Tu e eu.
Companheiros de horas vazias.
Passeios de sonho e esperança.
Teu chilrear de bonança
Enchia a minha alma,
E me transmitia imensa calma.
Eu, em troca, te abandonei.
Fugi e nada te dei.
Hoje,
Quero ver-te, tocar-te
E dizer-te.
Quanto te amei.

José Teixeira - 1996

Guiné 63/74 - P386: a tertúlia do Porto (Luís Graça)


Vila Nova de Gaia > Madalena > Vésperas de Natal de 2005 > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné...

Da esquerda para direita: Eu, Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Hugo Costa e Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada...)

© Hugo Costa / Francisco Allen (2005)

Estive com malta de Matosinhos... na Madalena, na casa de uns cunhados do Porto onde passei o Natal: A. Marques Lopes, Albano Costa e filho (Hugo), José Teixeira, Francisco Allen.... Também estive com o Eduardo Ribeiro, o "pira de Mansoa", o ranger que arriou a nossa bandeira, em Mansoa, em 9 de Setembro de 1974, e conheceu a "Maria Turra", a segunda mulher do Amílcar Cabreal... Ele trabalha na EDP, estive com ele na Rua do Bolhão. Desencontrei-me do David Guimarães, que é da Madalena, trabalha no Porto (na Segurança Social) e mora em Espinho, mas falei com ele pelo telefone...

Igualmente falei ao telefone com o Paulo Salgado e a Conceição que passaram o Natal, em Vila Nova de Gaia, perto de mim... Tive pena de não poder emcontrar-me com o Rui Esteves, estive mesmo ao pé da casa dele, andei a passear entre Lavadores e a Madalena, no excelente passeio marítimo que eles agora lá têm, mas esqueci-me do número de telemóvel dele... em Lisboa.

É tudo gente fixe, malta do norte, cinco estrelas... Já andam a combinar viagens à Guiné e um próximo encontro (alargado) da tertúlia... O novo periquito, o Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada) acaba de trazer um jipe da Alemanha e quer pô-lo em Bissau, para ficar ao serviço dos... tertulianos que lá forem!... Vai levá-lo por estrada, do Porto até Bissau, 4 dias e meio... Alguém estará interessado em alinhar com ele ? Ele diz que é uma aventura inesquecível, muito melhor que o Lisboa-Dakar!... Aliás, que o diga o nosso amigo Jorge Neto!...

O Allen prometeu-me mandar um e-mail um dia destes: vai ser um acontecimento (para ele, que jurou nunca mais, depois da reforma como bancário, pegar num computador!)... Vejam só o que é (ou o que faz) a camaradagem dos tertulianos da Guiné...

Verifico que o entusiasmo com a nossa tertúlia está a aumentar cada vez mais... Isso também me assusta, por que se estão a criar expectativas muito altas...

Trouxe uma série de documentação, que me foi fornecida pelo Ribeiro, pelo Teixeira e pelo Allen... O Costa e o Allen têm montes de documentação fotográfica de 1973/74, de 1998 e de 2000. Um e outros são grandes entusiastas e amigos da Guiné. E prometem abastecer a nossa tertúlia até, pelo menos, ao final da década...

Fiz questão de visitar a Foto-Guifões, em Guifões, Matosinhos... para perceber melhor como é que o Albano se tornou o chefe... da tabanca dos tugas de Guifões... Ele conseguiu (é obra!) reunir toda a malta de Guifões que esteve na Guiné. É um exemplo a seguir, não há dúvida.

Desta vez não deu para visitar os tertulianos de Viana do Castelo. Fico satisfeito em saber que a ADSL já chegou à tabanca do Sousa de Castro, o nosso tertuliano nº 1... e que ele agora já pode receber toda a nossa correspondência, incluindo os novos mapas que aí vão aparecer no princípio do ano (Bissau, Tite, Jumbemben, Bigene, Binta, Teixeira Pinto, Pirada...).

Cheguei dia 28, de madrugada, por volta das 1.30h... Celebro o Novo Ano em Lisboa, como de costume.

No último do ano, ultrapassados os 400 posts em menos de 9 meses, aproveito para mandar Um chicoração para todos os amigos e camaradas de tertúlia (desculpem a pieguice de fim-de-ano...). Tenho imenso material para inserir no blogue (e no nosso site, no resto das vinte e tal páginas com as memórias dos lugares, além dos mapas...). Vocês vão ter que ter paciência, a começar pelo Humberto que está na calha, há semanas, com montanhas de mapas pesadíssimos (megas e megas de baites de Guiné, bolanhas, lalas, tabancas, palmeirais), pelo Zé Teixeira (e o seu diário), o Albano (e o seu inesgotável álbum de fotografias), o Ribeiro (e o seu cancioneiro de Mansoa), etc... Mas isto é como o Lisboa-Dakar: está tudo na fila, controlado... Por isso, não fiquem "apanhados pelo clima"...

Continuação de boas festas para o Sousa de Castro e para a rapaziada dos Estaleiros. Um abraço para os restantes tertulianos, incluindo o António Joaquim Serradas Pereira, de Leiria, que não tem dado sinais de vida... Congratulo-me por receber notícias do meu amigo e camarada da ex-CCAÇ 12, o Joaquim Fernandes...

Guiné 63/74 - P385: Em busca de: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74) (Carlos Filipe)

1. Mensagem de Carlos Flipe Coelho, com data de 28 de Dezembro último:

Caros amigos:

Hoje, 28 de Dezembro de 2005, encontrei-vos, finalmente.

Chamo-me Carlos Filipe, fui radiomontador, formei Batalhão em 20 de Novembro de 1971 em Abrantes.

O Batalhão de Caçadores 3872 desembarcou em Bissau no dia 24 Dezembro de 1971. A minha CCS ficou sediada em Galomaro, mas antes estive aproximadamente um mês no QG em Bissau.

Depois fiz o velho percurso do rio Geba, e depois estrada, do Xime …até Galomaro. Claro que ainda tenho recordações de Dulombi, Cancolim, Bafatá, Bambadinca, Saltinho, Sete Fontes (fonte de água para abastecimento), Bolama (onde passei as minhas “férias”)...

O Cmdt de Batalhão era o Ten Cor Castro e Lemos, natural do Porto.

Será que haverá um camarada deste BCAÇ 3872 por aqui ??? De facto vejo muitas referências ao 3873 com percursos e referências que não me são de todo estranhas (1).

Por agora aceitem um forte abraço de amizade e muito obrigado a todos pela nostálgica alegria que me propocinaram.

Até à próxima.
Carlos Filipe A. Coelho
Ct0408@aeiou.pt

2. Resposta do Manuel Pereira (ex-furriel milicaino da CCAÇ 3547) (2):

Camarada, não serei talvez aquele que procuras, mas prometo, e conforme apelo do Luis, encetar contactos no sentido de comunicares com alguém do teu antigo Batalhão. A minha estadia em Galomaro foi relativamente curta, os desentendimentos com o Cmdt eram imensos (eu comandava um pelotão de reforço/destacado da CCAÇ 3547 - Os Répteis de Contuboel) - do BCAÇ 3884 sediado em Bafatá) daí e como medida de represália me obrigar a sair quase todas as noites para “emboscada” – protecção à distância e que eu numa atitude de desafio ficava pela “fonte”.

Conhecedor disso ou não, o Sr. Cmdt e mais uma vez, após acesa discussão ordenou-me que conjuntamente com o meu pelotão (também rebelde) fosse ocupar o aquartelamento do Dulombi. Foi a prenda do Sr. Cmdt para um conjunto de homens que já traziam na pele 24 meses de Guiné, distribuídos por Contuboel, Sonaco, Bafatá, Bambadinca Tabanca (Cambeidare), Sare Bacar, Medina Mandinga (Nova Lamego) e eu próprio com um currículo mais vasto acrescento também as muitas subidas em batelão de Bissau-Xime-Bambadinca (Porto), Bissau-Farim, trazendo tudo (?) o necessário para abastecimento das tropas. No sentido inverso (menos vezes, pois regressava de avião) o material evacuado (mortos inclusive).

A minha (nossa) estadia em Dulombi foi penosa mas felizmente curta. O 25 de Abril tinha chegado e O Sr. Cmdt foi ”levado” em Cesna pelos Homens do MFA e nosso desterro e destacamento no BCAÇ 3884 tinha chegado ao fim. Em Julho de 74 regressámos à metrópole.

Termino com votos de BOM ANO para todos os camaradas.
____

Notas de L.G.

(1) O Batalhão de Caçadores 3872, Galomaro – SPM 2188, editava em 1973 o jornal O Jantum. Director: o Cmdt.

Há um membro desta tertúlia que fez parte da CCAÇ 3490 do BCAÇ 3872, e que esteve do Saltinho (1971/74). É o Joaquim Guimarães, minhoto, que vive actualmente nso EUA. Vd. pots de 15 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005

(2) Vd. post de 17 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLV: Notícias do BCAÇ 3884 (Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P384: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (8): novos tertulianos

Guiné > Olossato > 1972 (?) > O Alferes miliciano Salgado (em cima do capô da GTMC) e o primeiro cabo Marques (sentado na roda sobresselente), da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), e cujo comandante era o capitão de cavalaria Mário Tomé.

© Paulo Salgado (2005)

Embora de férias (natalícias) em Vila Nova de Gaia, o Paulo não deixa de enviar, através do seu 'bombolom', notícias para a nossa tertúlia. Aqui vão:

Camaradas e Amigos,

Hoje tenho duas notícias para vos dar:

Primeira: o Rocha Lobo esteve na Guiné entre 71 e 73. Vive em Guimarães e convidei-o a entrar na tertúlia. Cacine foi o seu aquartelamento. Ficou contente por haver um blogue. Espero que ele venha ter connosco... por isso o convidei (Luís, tem paciência...).

Segunda: Recebi uma carta do Moura Marques - primeiro cabo que eu promovi no IAO, em Santa Margarida - escolha acertadíssima. Um grande homem, um grande camarada...é um dos meus amigos verdadeiros, profundamente humano e camaradão.O que é que ele me dizia? Pois bem: vou recebê-lo em Bissau no dia 24 de Fevereiro. E vou recebê-lo como um príncipe, um verdadeiro "Jacinto" (lembram-se de "A Cidade e as Serras", do Eça de Queirós...!)

Vai uma foto em que estamos vários numa ida à lenha. É Moura Marques o que está no ponto mais alto, em cima da rodada da GMC com a arma "apontada" ao alferes (eu próprio).

Honra ao meu amigo, vai estar comigo em Bissau, iremos ao Olossato, passando por Nhacra, Dugal, Mansoa, Bissorã, Maqué. Recordaremos juntos o passado para compreeendermos o presente e melhorarmos (no que pudermos) o futuro...

Para o Rocha Lobo e para o Moura Marques (este não tem internet) espero o vosso
aplauso.

Paulo Salgado

PS - Luís, mais uma vez a tua paciência...

Guiné 63/74 - P383: O Hino de Gandembel (Luís Graça)

Guiné > Quebo > 1968 > O José Teixeira, 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/79), junto ao obus 14, apontado à fronteira.

© José Teixeira (2005)

É com visível satisfação que inserimos hoje, aqui no nosso blogue, a famosa letra do hino de Gandembel. No meu tenpo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) era provavelmente a canção de caserna mais popular, passando de boca em boca. Guileje, Gadamael e Gandembel eram três nomes que aquartelamentos que os periquitos, em Bissau ou na Zona Leste, pronunciavam com temor e respeito... Estou a fazer um esforço por me lembrar da música que acompanhva esta letra: creio que era um fado ou um balada conhecida... Se alguém se lembrar que me diga.

Gandembel era um aquartelamento, no sul, junto à fronteira, a nordeste de Guileje.

A recolha foi feita pelo nosso camarada José Teixeira, na altura 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 que andou por Buba e Empada, entre 1968 e 1970. O Teixeira voltou recentemente à Guiné, em Março de 2005, com o Allen e outros camaradas. Desse regresso vais-nos dar conta em crónica que está a elaborar para a nossa tertúlia. Além disso, deu-nos o privilégio de partilhar o seu diário da época (1968/70) , bem como as suas fotos, que iremos divulgando nos proximos dias...


Hino a Gandembel

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída!
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte!,
Logo se ouve dizer.

Oh!, Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (1) e morteiradas.
Oh!, Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (2)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (3),
Do outro lado o Guilleje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (4) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!

Recolha: José Teixeira / Revisão de texto: L.G.
____

(1) Verylights
(2) WC
(3) A famosa ponte Balana
(4) A espingarda automática G-3


Guiné 63/74 - P382: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339 (Carlos Marques Santos)

Guiné > Zona Leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > A famigerada árvore que servia de mira aos guerrilheiros do PAIGC nas flagelações, com armas pesadas, ao aquartelamento.

Ela resistiu a estes anos todos... Em 1996, o nosso camarada Humberto Reis fotografou-a, ainda resistente, de pé, mas aparentemente já sem vida...

© Carlos Marques Santos (2005)

Excertos do Diário de um Tuga (L.G.)

Mansambo, 17 de Setembro de 1969 (1)

Uma clareira aberta no mato a golpes de catana e de motosserra, guarnecida de arame farpado, artilharia e abrigos-casernas à prova de canhão sem recuo (2), eis Mansambo (3).

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Trabalhos de construção de mais um abrigo...

© Carlos Marques Santos (2005)

Os guerrilheiros chamam-lhe campo fortificado mas como este aquartelamento de mato há muitos – dizem-me – sobretudo no sul, e que são verdadeiros abcessos de fixação (4).



Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > A tristemente célebre fonte de Mansambo, na imediações do aquartelamento... Hoje estas e outras fotos fazem-nos rir, mas também pensar e chorar: como foi possível que nós, jovens, pudéssemos viver, nos melhores anos da nossa vida, em buracos como Mansambo ou Guileje ?

Uma emboscada à viatura da água causou gaves baixas às NT, obrigando à abertura posterior de um poço no perímetro do aquartelamento...
© Carlos Marques Santos (2005)

Aqui vive-se praticamente em estado de sítio. Para ir descarregar o lixo fora do arame farpado, apanhar lenha ou encher os bidões de água a 100 metros sai-se com um grupo de combate armado até aos dentes.

A rotina, porém, leva ao afrouxamento da disciplina. Há alguns meses atrás, o grupo de combate que montava segurança à viatura da água foi surpreendida pelos guerrilheiros, emboscados junto à fonte, no momento em que alguns soldados tomavam banho alegre e despreocupadamente. Resultado: 2 mortos e 10 feridos.

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > O abastecimento de água, a partir de uma nascente local, era não apenas penoso como inseguro.

© Carlos Marques Santos (2005)

O aquartelamento tem sofrido flagelações, sem consequências. O pior são as minas e emboscadas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole (5). Todavia, o problema nº 1 aqui é o isolamento. A unidade é abastecida a partir de Bambadinca.

Não há pista de aviação. Não há população civil, excepto meia dúzia de guias nativos com as respectivas famílias. Ora o isolamento nestas circunstâncias acarreta toda uma séria de perturbações psicológicas e até mentais. Apanhado pelo clima é a expressão que se utiliza na gíria deste universo concentraccionário em que se transformou a Guiné (5).
Luis Graça

(ex-furriel Miliciano Henriques, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
_________

Notas de L. G.

(1) No decurso da Op Belo Dia II, coluna logística do BCAÇ 2852 para as unidades de Xitole e Saltinho (17-18 de Setembro de 1969). A CCAÇ 12 participou a 2 Grupos de Combate. Chegámos a Mansambo por volta das 17:30h. Pernoitámos no aquartelamento, amontoados uns sobre os outros. No dia seguinte, a 18 de Setembro, a caminho do Xitole, a GMC do Dalot, o "melhor condutor do mundo de GMC", que ia em quarto lugar, accionou uma mina anticarro. Eu ia em 3º lugar, num Unimog… Mais um dia de sorte, para mim. Hoje penso que tive um irã a velar por mim, na Guiné… (vd. post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969)

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > O abastecimento de água feito à mão (!), com jericãs, na fonte de Mansambo...

© Carlos Marques Santos (2005)



(2) Hoje tenho dúvidas sobre o que escrevi na época: não me parece que os nossos bunkers tanto em Mansambo como no resto da Guiné fossem à prova de canhão sem recuo. Seguramente que não eram. Tectos e paredes não eram de cimento armado. Muitos deles não passavam de buracos escavados no chão, com um tecto de rachas de cibe (tronco de palmeira) e argamassa de terra e cimento… Na melhor das hipóteses, poderiam aguentar uma roquetada ou até uma morteirada do 82! (Vd foto, a seguir, do poço do quartel, com um abrigo-casermna atrás).


(3) Em Setembro de 1969, a unidade de quadrícula estacionada em Mansambo era a CART 2339 (1968/69). Tinha um pelotão (- 1 secção) na tabanca em autodefesa de Candamã e uma secção em Afiá, no regulado do Corubal, a leste de Mansambo.

Havia ainda um esquadrão (-) do Pelotão de Morteiros 2106 e o 8º Pelotão da Bateria de Artilharia de Campanha (-) (um secção estava em Bissau).

Na ZA (zona de acção) de Mansambo incluía-se ainda o destacamento de Moricanhe (a norte de Mansambo e a sul de Dembataco), guarnecida pelo Pel Mil 145, mas retirada pelas NT, na sequência da reacção do PAIGC à Op Lança Afiada (8-18 Março de 1969) (vd. post de 15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli ).

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 >

"Depois de casa arrombada, trancas á porta"...

Depois das baixas sofridas na fonte (2 mortos e 10 feridos) foi decidido abrir um poço dentro do próprio aquartelamento...

© Carlos Marques Santos (2005)




Só no subsector de Mansambo, e até finais de Julho de 1969, a guerrilha tinha lançado uma série de acções ofensivas (para além da sua reacção defensiva à contrapenetração das NT nos seus redutos ou zonas de controlo na região compreendida entre a margem direita do Rio Corubal e a estrada Bambadinca - Mansambo – Xitole):

(i) 2 de Abril de 1969: emboscada, com mina A/C comandada, a uma secção do Pel Mil 145, na estrada Mansambo-Bambadinca, durante 15 minutos, por um grupo IN estimnado em 30 elementos, equipados com LGF, PM e espingardas automáticas;

(ii) 15 de Maio de 1969: emboscada a forças da CART 2339 na estrada Mansambo-Bambadinca, durante 25 minutos, por um grupo IN estimado em 30 elementos, equipado de LGF e armas automáticas; sem consequências;


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Vista geral dos "novos balneários": Um luxo !!!

© Carlos Marques Santos (2005)


(iii) 2 de Junho de 1969, três grupos IN não estimados flagelaram em simultâneo, durante a noite, os destacamentos de Amedalai, Dembataco e Moricanhe (os dois primeiros pertencentes ao sub-sector do Xime), utilizando um número impressionante de armas pesadas: 7 canhões s/r, 8 morteiro 82, 13 LGFog, Metralhadoras 12.7, metralhadoras ligeiras e outras armas automáticas; causaram um morto e 3 feridos entre as milícias, um morto e qutro feridos entre os civis, para além de danos materiais nas tabancas;

(iv) 11 de Junho de 1969: flagelação, à meia-noite, do aquartelamento de Mansambo, do lado oeste, durante 30 minutos, por um grupo estimado em 20/30 elementos, com canhão s/r, Mort 82, LGFog e armas automáticas;

(v) 13 de Junho de 1969: idem, mas do lado sul, e ao anoitecer…



(vi) 24 e 27 de Julho de 1969: flagelação, à distância, ao fim da tarde (cerca das 17h) do aquartelamento de Mansambo, com Mort 82;

(vii) 30 de Julho de 2005: flagelação, à distância, durante 20 minutos, do aquartelamento de Mansambo, por um grupo não estimado, utilizando Canhão s/r e Mort 82;

(viii) 30 de Julho de 1969: ataque, de madrugada, à tabanca em autodefesa de Candamã durante 2 horas e 20 minutos (!), por um grupo estimado em 80/100 elementos, utilizando 2 Canhões r/s, Mort 82, 3 Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada, Metralhadoras Ligeiras e Granadas de Mão Defensivas, causando 5 feridos (um grave) às NT, 2 mortos e diversos feridos à população civil (três dos quais graves)

(ix) 11 de Agosto de 1969: flagelação a Candamã, àss 19:00h, durante 5 minutos, sem consequências;

(x) 15 de Agosto de 1969: ataque, às 5:00h da manhã, à tabanca em autodefesa de Afiá, durante 30 minutos, e à distância de 500 metros do arame farpado, por um grupo estimado em 80/100 elementos, utilizando Canhão r/s, Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada e Metralhadoras Ligeiras causando 3 mortos e 9 feridos (um grave) à população civil;

(xi) 21 de Agosto de 1969: forças da CART 2339 detectam e levantam 9 minas antipessoais na região do Rio Bissari; ao mesmo tempo, accionam um mina A/P reforçada, causando um morto (guia nativo) e cinco feridos (um grave) às NT;

(3) Gadamael e Guileje eram, para além de Madina do Boé (abandonado em Fevereiro de 1969) os aquartelamentos do sul de que mais se falava, nesta época, em Bambadinca; o nome de Gandembel também era referido; havia canções que evocavam estes nomes já míticos e que serviam para assutar os periquitos…

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Nem os amuletos ou mezinhos nos carros dos Viriatos (neste caso, um par de cornos...) os livraram de minas e emboscadas...

© Carlos Marques Santos (2005)


(4) No dia seguinte, 18 de Setembro, uma coluna logística do BCAÇ 2852, uma viatura GMC da CCAÇ 12, com três toneladas de arroz, iria accionar uma mina anticarro, junto á ponte do Rio Jago, no troço Mansambo- Xitole (Xime 8 A 5 – 36) Este itinerário estava interdito desde Novembro de 1968. A mina não fora detectada pela equipa de 12 picadores que seguiam na frente com 2 Grupo de Combate.

Dias depois, a 29 de Setembro de 1969, forças da CART 2339 (6) sofrem um morto e um ferido grave, na sequência de um emboscada, levada a cabo por um grupo estimado em15/20 elementos, às 06:50h, na estrada Mansambo-Bambadinca n(Xime 8B 4 -72). Na emboscada, que durou 15 minutos, foram utilizados LGFog, Mort 60 e armas automáticas.


Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > CART 2339 > Nicho de Nossa Senhora num dos abrigos do aquartelamento...

A fé (cristã) também ajudou muitos dos nossos camaradas de armas a suportar as duras provações da guerra...

© Carlos Marques Santos (2005)


(5) Assisti aqui em Mansambo, em data que já não posso precisar (ou melhor: não quero, para não comprometer o bom nome dos nossos antigos camaradas) , a uma cena que - julgo eu - não seria não rara quanto isso, no TO da Guiné, em resultado do stresse de guerra, e que me impressionou vivamente: no final de uma operação, no regresso ao quartel, um comandante de unidade chamou um dos operadores de transmissões que terá cometido um erro qualquer no decorrer da operação e “enfiou-lhe um enxerto de porrada”, daquela de criar bicho… Assim, sem mais nem menos, a quente, à frente dos seus homens e de alguns graduados da CCAÇ 12… Constava que também não eram raras as cenas de pugilato entre esse capitão (miliciano!, se a memória me não atraiçoa...) e os seus sargentos e alferes…

(6) Mensagem (posterior) do Humberto Reis:

Carlos Marques

Bem vindo a esta Tertúlia. Lembro-me tão bem da 2339. Fizemos algumas, e não foram poucas, operações juntos. Eu na CCAÇ 12 e tu na 2339. Tenho um slide na minha colecção que tirei a um dos Unimog com pessoal da 2339, ainda estacionado na pista em Bambadinca, quando em Dezembro de 1969 vos escoltei até ao Xime (vocês a virem embora e eu cheio de inveja de ter de ficar e alinhar para o mato).

Infelizmente só me lembro de um nome da vossa companhia exactamente por ser parecido com o meu. Era o furriel miliciano Rei. Sabes alguma coisa deste amigo?

Um abraço e Bom Ano de 2006

Humberto Reis

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P381: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (2): as CART 2339, 2714, 3493 e 3494 (Carlos Marques Santos)

© Carlos Marques Santos (2005)

No post anterior, de 28 de Dezembro último, publicámos duas fotos relativas aos trabalhos de construção do aquartelamento de Mansambo, a cargo da CART 2339 (1968/70).

Essas duas primeiras fotos são um hino à vida: (i) a abertura de um poço e a instalação da motobomba; (ii) os chuveiros e a alegria da água correndo sobre os corpos sedentos e sujos.

© Carlos Marques Santos (2005)

Hoje publicamos mais algumas das fotos que oe x-furriel miliciano Samtos, da CART 2339, nos mandou: os soldados que, além da G-3, também sabiam pegar na pá, na picareta, na enxada, na serra, no balde e na colher da massa, no enxó, no formão, no martelo, etc. para construir abrigos subterrâneos e outras instalações para o pessoal... Com materiais baratos mas frágeis: troncos de palmeira, tijolos de areia e cimento, chapa de zinco, colmo...

© Carlos Marques Santos (2005)

Guiné > Zona leste > 1968 > Vista parcial do quartel de Mansambo >

Recebemos, entretanto, uam mensagem do Manuel Cruz, ex-capitão miliciano, ex-comandante da CART 3493, fazendo algumas correcções às legendas das fotos que estão na página Memórias dos ligares > Mansambo. aqui fica:

Olá

Temos aqui umas fotos de Mansambo, e com gente da nossa CART 3493 junto da Fonte (1).

Creio que as descrições das fotos têm alguns erros / dúvidas (abrir a página sobre Mansambo para ver fotos do Manuel Ferreira da CART 3494)

- Não estivemos em Mansambo até Abril de 1974;

- De Mansambo fomos para Cobumba, Fá Mandinga e terminamos no COMBIS (comando de Bissau) de onde chegamos a participar em escolta de coluna até Farim;

- É verdade que o BART 3873 esteve na Guiné entre finais de 1971 (passámos o Natal a bordo do Navio Uíge (2); a passagem de ano, 1971/72, foi já em Bolama;

- Saímos de Mansambo para Cobumba e não para o Cantanhês;

- Que companhia é que foi ocupar Mansambo quando saímos para Cobumba, terá sido a CCAÇ12?

- Não fomos do Xime para Mansambo, mas sim directamente de Bolama (centro de instrução);

Com votos de que este período festivo esteja a decorrer bem para todos Vós e um Bom Ano 2006.

Manuel Cruz (3)

(ex-Cmdt CCART 3493, 1971/74)
______________________

Nota de L.G.

Guiné > Bolama > Princípios do Ano de 1972 > O Manuel Ferreira, condutor auto da CART 3494 (que fez a sua comissão no Xime e em Mansambo, entre 1972 e 1974)

© Manuel Ferreira (2005)

(1) Involuntariamente, o Manuel Cruz foi induzido em erro: na realidade, o Manuel Ferreira era da CART 3494, e não da CART 3493.

A primeira esteve originalmente no Xime e depois é que foi para Mansambo, em Abril de 1973. Ambas pertenciam ao BART 3873 (Dezembro de 1971 / Abril de 1974), que esteve sediado em Bambadinca.

A CCAÇ 12 passou a unidade de quadrícula nessa época, tendo sido destacada para o Xime até à data da independência.

(2) O Manuel Carvalhido, da CCS do BART 3873, corrige: o navio não era o Uíge mas o Niassa...

(3) Vd. post de 13 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CVIII: Welcome aboard, captain ! (CCAÇ 3493, Mansambo, 1972)

"Chegámos a Bolama para treinos militares entre o Natal e o Ano Novo (1971/1972. Depois seguimos para Mansambo onde estivemos em sobreposição com a companhia [2714] comandada por um capitão miliciano, de nome Agordela. Não sei exactamente quando, mas o senhor comandante da Guiné, General Spínola, transferiu-nos para Cobumba, [região de Tombali] (perto de Cufar - COP4 e perto de Bedanda e um pouco mais a montante do rio Cobumba instalou-se um grupo de Fuzileiros.

"Alguns meses depois a CCAÇ 3493 foi para Fá Mandinga, onde estivemos poucos meses.A última parte da comissão, que nos custou ao todo 27 meses, estivemos em Bissau no COMBIS, onde integrávamos a defesa de Bissau e dávamos apoio / segurança a colunas militares e civis para Farim".

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P380: Tabanca Grande: Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 2339 - Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (1): a água da vida

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > Para além dos abrigos subterrâneos à prova de morteiro e de bazuca (pelo menos), e das demais infraestrutuars indispensáveis à vida de uma companhia de quadrícula (refeitório, depósito de géneros, paiol, secretaria, campo de futebol, etc.), a água era talvez o bem mais precioso... Água, água!, diziam eles...

© Carlos Marques Santos (2005)

Temos mais um tertuliano, na recta final do ano de 2005: é o Carlos Marques dos Santos, de Coimbra, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/70) , afecta ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Esta undiade foi rendida pela CART 2714 (1970/72).

Aqui vão as duas primeiras mensagem dele (enviadas em 26 e 28 de Dezembro de 2005):

Companheiro(s):

(i) Alertado por um mail do Ernesto Ribeiro, explorei o vosso blogue e, em anexo, envio cinco fotos do construção de raiz do quartel Mansambo, incluindo o poço e os chuveiros, em estreia (naquela altura) absoluta (1).

Anteriormente, um pelotão em linha, pronto a disparar, tinha que fazer segurança para o banho na célebre nascente (?) depois de ter havido uma emboscada, com atiradores do PAIGC na copa das árvores, emboscada essa que provocou graves danos na Companhia (2).

(ii) Por mero acaso descobri nas minhas navegações na Internet um site que referia Mansambo. Ao explorá-lo encontrei dois nomes: Ernesto Ribeiro e António Santos Almeida (CART 2339).

Por mail, entrei em contacto com o Almeida e descobri que ele iria à Guiné em Março próximo. Manifestei o desejo de ir também e logo a seguir um telefonema de quem há cerca de 35 anos não tinha notícias, apesar de termos desde há dez anos encontros anuais da nossa unidade. Este ano vai ser no Gerês, em Maio, o nosso encontro.

Este mail serve-me de primeiro contacto.Ao mesmo tempo, e vendo fotos de Mansambo, quero contribuir para a memória colectiva, enviando algumas das que possuo. Em anexos vou mandar umas tantas.

Um abraço de Marques dos Santos
(ex-furriel miliciano da CART 2339, hoje professor de Educação Física do Ensimno Secundário, aposentado, vivendo em Coimbra)


Guiné > Zona leste > Mansambo (3)> 1968 >

Depois da água para beber, o bem a seguir mais precioso era o duche... Quem não se podia dar ao luxo de tomar um duche, como este aqui documentado na foto, tomava uma banho à fula... com água recolhida das chuvas, em bidões!

© Carlos Marques Santos (2005)
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Notas de L.G.:

(1) A água (doce, potável ou não) era um dos bens mais preciosos, não só para as NT como para o PAIGC e para a população guineense. A água era duramente disputada por ambos os contendores. Naslguns sítios havia um acordo de cavaleiros, tácito; noutras, imoeraca a lei da guerra... Aconteceu em Mansambo: as NT foram emboscadas junto à nascente que abastecia o quartel em construção... Mansambo não existia no mapa, mas a sua importância era estratrégica ficando a meio dos trinta e tal quilómetros que separavam Bambadinca e o Xitole. O quartel foi construído de raíz pela CART 2339, com quem a CCAÇ 12 ainda colaborou durante meio ano (até Dezembro de 1969) em operações e colunas logísticas...

(2) Vd. na página sobre Mansambo fotos da famigerada nascente que havia nas imediações do aquartelamentoonde e onde tanto as NT como o PAIGC se abasteciam de água. Foi local de emboscadas e de mortes. Nessas fotos, pode-se ver o soldado condutor auto Manuel G. Ferreira, da CART 3494, do BART 3873, Jan. 1972 / Abr. 1974).

(3) No nosso tempo costumava-se dizer que Mansambo era um sítio que não vinha no mapa. Não tinha qualquer importância administrativa, por comparação com Bambadinca, a norte, e o Xitole, a sul. O quartel foi implantado na mata, desbastada: era um campo de futebol ou pouco mais, constituído por abrigos subterrâneos, construções de superfície abarracadas e arame farpado a toda a volta... No mapa do Xime, dos Serviços Cartográficos do Exército, anterior à guerra, havia uma minúscula tabanca, com duas moranças...

Guiné 63/74 - P379: Estórias cabralianas: 'turras brancos' em Bissaque, uma ficcção cabraliana (Jorge Cabral)

Em 1952, terminado o curso de engenheiro agrónomo em Lisboa, Amílcar Cabral regressa à sua terra, contratado pelos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné Portuguesa, trabalhando nomeadamente em Fá Mandinga (dizia-se, no meu tempo...) e em Pessubé, em Bissau (onde dirige uma exploração agrícola, a famosa Granja de Pessube: vd. mapa da cidade de Bissau).

Em 1969/71, outro Cabral passaria por Fá (Mandinga): era Alferes Miliciano do Exército Colonial Português, poeta e grande admirador da beleza feminina africana... Fá também foi centro de instrução da 1ª Companhia de Comandos Africanos.

Em 18 de Dezembro de 1969, o Alferes Cabral, à frente do seu Pel Caç Nat 63, vai, de noite, em socorro de Bissaque, atacada por um "turras brancos"... Trinta e cinco anos depois, em primeira mão, neste blogue, faz-se história: o próprio Cabral vem revelar que essa dos brancos em Bissaque foi uma "ficção cabraliana"... Esses delíros eram frequentes enre os soldados portugueses: recordo-me de um dos nossos básicos (da CCAÇ 12) que um dia terá visto elefantes junto ao arame farpado do quratel de Bambadinca!

© Jorge Cabral (2005)

1. Em Dezembro de 1969 a disposição das NT no Sector L1 da Zona Leste (Bambadinca) era a seguinte:

BCAÇ 2852 > Bambadinca
(1) CSS do BBCAÇ 2852 > Bambadinca

(2) CART 2520 (-) > Xime
(21) Um pelotão > Enxalé

(3) CCAÇ 2404 (-) > Mansambo
(31) Uma pelotão (-) > Candamã
(32) Uma secção > Afiá

(4) CART 2413 (-) > Xitole
(41) Um pelotão > Ponte dos Fulas

(5) Pel Caç Nat 52 > Bambadinca
(6) Pel Caç Nat 54 > Missirá
(7) Pel Caç Nat 63 > Fá

(8) Pel Autometralhadoras DAIMLER 2046 > Bambadinca
(9) Pel Mort 2106 (-) > Bambadinca. Com um esquadrão (-) em cada um dos seguintes aquartelamentos ou destacamentos: Xime, Mansambo, Xitole, Enxalé, Fá, Missirá
(10) 20º Pel BAC 1 > Xime

(11) CCAÇ 12 (-) > Bambadinca
(111) Uma secção > Sansacuta

(12) Pelotões de milícias nas seguintes localidades: Missirá (201), Finete (202), Madina Bonco (241), Amedalai (203), Taibatá (242) e Dembataco (242).


2. Na História do BCAÇ 2852, Capítulo II, página 123, pode ler-se:

“Em 18 [de Dezembro de 1969 ], pelas 00h01 horas, um “Grupo IN, estimado em cerca de 20 elementos com alguns brancos (negrito meu), assaltou com armas ligeiras e granadas de mão, durante 20 minutos, a tabanca de Bissaque (Bambadinca 8 C 6), roubando uma vaca, um porco, várias galinhas e diversos objectos de uso pessoal, causando um ferido ligeiro à população que reagiu à catana e pelo fogo, o único elemento armado. 

"O IN sofreu um ferido motivado por catanadas, deixando poças de sangue, retirando e cambando o Rio Geba na Região (Bambadinca 3 I 7-65). As NT estavam emboscadas em (Bambadinca 5 I l-98), alertadas e passando obrigatoriamente pelo quartel de Fá [Madinga], fizeram fogo de morteiro sobre a última cambança (Bambadinca 5 I 9-24) reconhecendo o trilho IN de retirada até ao Rio Geba”.

O comandante da força que estava emboscada (o Alf Mil Cabral, do Pel Caç Nat 63) e que fez depois o reconhecimento - ainda nessa mesma noite - da acção do IN em Bissaque, deixou transparecer há dias, aqui neste blogue (1), que a notícia de brancos, integrando o grupo IN que terá assaltado Bissaque, foi tão exagerada… quanto a notícia da morte de Mark Twain comentada pelo próprio.

Em Dezembro de 1969, o Alf Mil Cabral comandava o destacamento de Fá Mandinga, guarnecido pelo PEL CAÇ NAT 63. Aqui vemo-lo, em traje de combate, devidamente protegido, contra as balas do IN, pelo mezinhos mandingas

© Jorge Cabral (2005)

O Jorge Cabral terá querido assustar o valoroso tenente-coronel e os magníficos majores de Bambadinca ao dar a notícia (fantasiosa) dos brancos em Bissaque. Nunca ninguém viu ou apanhou brancos no Sector L1, integrados na guerrilha do PAIGC.

Era uma ficção que já vinha da Operação Lança Afiada (Março de 1969) (2): os homens do BCAÇ 2852 ficaram muito frustrados quando entraram no Fiofioli e não encontraram nem enfermeiras nem médicos cubanos!

O Jorge Cabral era o único, de nós, que muito provavelmente se divertia com a guerra, “avacalhando” o sistema, fazendo “non sense” e produzindo inventonas como esta. "Ficções cabralianas", como ele próprio as define... A verdade é que os brancos de Bissaque, tal como os cubanos do Fiofioli, ficaram registados nos livros da tropa, o mesmo é dizer, no Arquivo Histórico-Militar...

Bissaque era uma aldeia balanta, em pleno chão fula (Zona Leste), situada no Geba Estreito, nas proximidades de Ponta Amaro, na margem esquerda, a norte de Fá Mandinga, a menos de cinco quilómetros em linha recta (pelo mapa). Pela carta (de 1955) era uma tabanca dispersa com meia dúzia de moranças. Não me lembro de lá ter passado, mas é bem possível que sim, numa qualquer acção de patrulhamento. De qualquer modo, Bissaque fazia parte do importante núcleo de população balanta do Sector L1, considerado sob duplo controlo, a par de Nhabijões, Mero e Santa Helena (3).

A população destas tabancas ribeirinhas, localizadas ao longo do Geba Estreito, hostilizava-nos ou, pelo menos, colaborava com o PAIGC, até por razões de parentesco e de etnia. Contrariamente às tabancas fulas, as tabancas balantas não estavam em autodefesa nem tinham milícias. Lembro-me de estar destacado em Nhabijões, já depois do seu reordenamento, e ser alertado, à noite, para a presença de guerrilheiros. Entravam e saíam com relativa facilidade no reordenamento, nas nossas barbas, quase descaradamente. Em contrapartida, nunca nos atacaram, por muito provavelmente recearem as nossas represálias sobre a população balanta. Limitaram-se, um dia, a 13 de Janeiro de 1971, a montar duas minas anticarro, à saída do reordenamento, na estrada de Nhabijões-Bambadinca,que nos custaram 2 mortos e vários feridos graves (entre eles, o Alf Mil Sapador Luís Moreira e o Fur Mil Atirador de Infantaria Joaquim Fernandes, membros da nossa tertúlia) (4).

Não sei, de resto, o que nos poderia acontecer se um dia a “esquadra de polícia” do Reordenamento de Nhabijões fosse atacada, à noite, de surpresa… Até Julho de 1970, o destacamento de Nhabijões era guarnecido por forças da CCAÇ 12… A partir daí foi constituído um pelotão permanente da CCS do BART 2917, enquadrado por graduados da CCAÇ 12. Os homens da CCS não tinham qualquer experiência de combate… No essencial, era um “pelotão de básicos” que seria rapidamente destroçado se algum dia o PAIGC nos atacasse…

A menos que se tratasse de um pequeno grupo de ladrões de gado, de etnia balanta (o que era vulgar acontecer, no Sector L1, mesmo em plena guerra...) ou de um pequeno grupo de guerrilha esfomeado e fora do controlo do seu comissário político, não vejo qual o interesse do PAIGC em amedrontar a pacata e colaborante população de Bissaque. Par mais à meia noite e para roubar apenas um vaca, um porco e algumas galinhas. Em suma, esta história parece-me estar mal contada, como muitas outras relatadas pelas NT...

Três dias depois, a 21, às 5h30 da manhã, os Pel Caç Nat 53 e 64, reforçados com duas secções de milícia, efectuaram uma operação de dois dias para detecção de vestígios do IN na região de Missirá, Finete, Chicri, Mato Cão, Finete. Não houve contacto nem vestígios (Op Espada Gaulesa). O Mato Cão era um dos pontos sensíveis do Geba Estreito donde a guerrilha costumava desencadear acções de barragem à navegação. Era uma zona intensamente patrulhada pela CCAÇ 12. Depois do regresso a casa dos quadros metropolitanos da CCAÇ 12 (Março de 1971), foi instalado um destacamento no Mato Cão (A informação é do Jorge Cabral que lá ficou na região por mais uns meses).

As forças do PAIGC que actuavam nesta região eram provenientes da base de Madina/Belel, no regulado do Cuor. Ataques e flagelações aos destacamentos de Missirá, Finete e Enxalé eram frequentes, obrigando ao reforço temporário de alguns deles (como era sobretudo o caso de Missirá).

Já em 28 de Setembro de 1969, há o registo, na história do BCAÇ 2852, de uma incursão de um grupo IN, armado, na povocação de Nhabijões Bedinca:

“Em 28, pelas 1h30, um grupo IN estimado em 50 elementos, armados de PM [ Pistolas Metralhadoras] e de espingardas [ automáticas ?] assaltaram a tabanca de Nhabijões Bedinca (Bambadinca 4 A – 3), agredindo à coronhada alguns africanos e roubando arroz, milho, uma vaca e um porco e diversos agasalhos. Retiraram para Norte, cambando o Rio Geba em canoas para a bolanha de São Belchior (Bambadinca 1 F 3 ?)”.

Alguns dias depois, a 3 de Outubro, pelas 14h00, muito provavelmente o mesmo grupo IN flagelou a embarcação Gouveia XVI da margem direita do Rio Geba, na região de São Belchior, “causando 1 morto, 4 feridos graves e 6 feridos ligeiros à população”… A embarcação, da Casa Gouveia, transportava apenas “carga civil” e dirigia-se, segundo presumo, de Bafatá para Bissau.
De qualquer modo nesse mês de Dezembro de 1969, há o registo de mais duas acções intimidatórias deste tipo, atribuídos pelo comando de Bambadinca à guerrilha do PAIGC:

“Em 10 de Dezembro, pelas 1h45, um grupo IN estimado em 6/8 elementos roubou 2 vacas na tabanca de Canchicamo (Bambadinca 8 A 8 ?) incendiando a morança do dono daquelas e tendo morrido uma criança e um nativo quando reagia ao IN com um pau. O IN atravessou o Rio Geba (Bambadinca 5I2) a nado, retirando pelo mesmo local. As NT, alertadas por elementos da população, imediatamente se deslocaram à tabanca de Canchicamo tendo detectado o trilho IN e tendo encontrado uma GMO [granada de mão ofensiva] (5).

“A 16, pelas 21h30, um grupo IN não estimado assaltou as moranças da tabanca de Nhabijões Bedinca roubando 2 vacas, um porco e tendo agredido o dono daquelas à coronhada e ocasionando nestes ferimentos. O IN cambou o Rio Geba na região (Bambadinca 1 I 5- 52)”.

Como se pode avaliar pela magnífica carta de Bambadinca, as povoações ribeirinhas ao longo do Geba Estreita eram de difícil (para não dizer impossível) controlo por parte das NT.

Ainda, nesse mês e ano, nas vésperas de Natal, a 24, dois Gr Comb da CCAç 12, “em cooperação com a autoridade administrativa de Bambadinca levam a cabo uma rusga, com cerco, à tabanca de Mero”. Na história desta unidade (Cap. II, pág. 20) diz-se que “apesar de alguns indícios suspeitos, não foram detectados elementos IN”; por outro lado, “para efeitos de controlo populacional, completou-se e actualizou-se o recenseamento dos habitantes de Mero (Acção Guilhotina)”.

Luís Graça
__________

(1) Vd. post de 21 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIII: Bendito Cabral, entre as mandingas de Fá e as balantas de Bissaque:

"Porque estamos no Natal, recordas o teu de 69 e um ataque a Bissaque. Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho. Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50. Embora existisse uma estrada para Bissaque, o Marinho conduziu-nos por uma interminável bolanha, após a qual lá chegámos, obviamente muito depois do "inimigo" ter retirado. O ataque referido nos documentos oficiais, não passou de uma breve flagelação. Fui eu que relatei a ocorrência, e porque quem conta um conto... acrescentei- lhe alguns pormenores (essa da intervenção de brancos deve ter sido ficção cabraliana), para assustar o Comandante de Bambadinca!"

(2) Vd post de 15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

(3) Vd mapa de Bambadinca

(4) Vd. posts de:

21 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCII: O reordenamento de Nhabijões (1969/70)

23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)

2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão (Luís Graça)

(5) Na brochura sobre a história do BCAÇ 2852, a grafia é Canxicamo. A mim parece-me que a grafia correcta é Canchicamo, de acordo com o mapa de Bambadinca, dos Serviços Cartográficos do Exército (1955). Canchicamo ficava a norte de Bissaque, junto a Ponta Amado numas curvas (caprichosas) desse mítico rio que era, para nós, o Geba (ou Xainga).

Guiné 63/74 - P378: 'Bom festa pa tudo djinti': Natal 2005

Em resposta à mensagem natalícia do Mário Dias, em crioulo [vd. post de 18 do corrente > Guiné 63/74 - CCCLXXXVI: ´'Bom festa pa tudo dgenti' ou o Natal de Bissau de 52 (Mário Dias)], começam a aparecer mais tertulianos, mostrando os seus talentos linguísticos e poéticos. Este post vai estar aberto até ao Natal, para que possamos uns e outros "partir mantenhas":


21. Joaquim Fernandes (ex-furriel miliciano da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71):

Caro Amigo e Camarada Henriques:

Tem sido com bastante emoção e até com algum saudosismo que venho acompanhando toda esta corrente tertuliana, que saúdo com muito carinho.

Apesar de não ter participado activamente, não deixo de me sentir bem perto de todos vós.

Nesta Quadra Natalícia, quero deixar os meus votos de Boas festas e o meu obrigado por ter o privilégio por me considerarem vosso amigo.

Bem Hajam
Joaquim Fernandes
(27.12.2005, 9:50)

A caminho da Guiné > A bordo do Niassa > Maio de 1969: Quadros metropolitanos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), na viagem de Lisboa-Bissau (24 a 29 de Maio de 1969).

Da esquerda para a direita: 2º sargento Videira, furriéis milicianos Branquinho, Levezinho, Reis, Fernandes, Henriques e Almeida (este último já falecido).

© Luís Graça (2005)


20. Ernesto Ribeiro:

Agradeço e retribuo o Votos de Boas Festas.

Mais, aproveito para incentivar a continuação do magnífico trabalho que tem prestado a toda a Guiné e em especial aos saudosistas que se sentem impotentes para fazer algo de melhor, como é o meu caso.
Bom 2006 para todos

Ernesto Ribeiro
CART 2339 / Viriatos

(23.12.2005, 10:35)

19. Afonso M.F. Sousa (Mensagem natalícia enviada, com música, em 22 de Dezembro de 2005, pelas 21:15, a todos os tertulianos):





18. Sousa de Castro (Tomem nota do seu novo endereço de e-mail):

Luís, agora que chegou a ADSL à minha tabanca, torna-se muito mais fácil aceder a todo Blogue e não só. Como sabes no sistema de ligação pelo telefone era impossível abrir alguns trabalhos devido ao tempo que demorava.

Tenho devorado toda a documentação. Consegui transpor para o papel e a cores num formato acima do A3 os mapas do Humberto relacionados com o Xime e só agora percebo o quanto estávamos perto dos nossos amigos, Ponte Varela, Ponta do Inglês, Poidon e ali no meio Gampará na confluência do Rio Corubal com o Rio Geba. Tanta vez que demos apoio de fogo a Gampará com Obus 10.5. Por falar em Gampará, ainda não apareceu ninguém dessa zona.

Devo dizer que da tua parte tens feito um excelente trabalho. Excepcional!... É caso para dizer:
Eu, António Manuel Sousa de Castro, ex-1º cabo radiotelegrafista, da CART 3494, louvo o ex-Furriel Luís Graça pela determinação, competência, dedicação, moderação e camaradagem, e pelo empenho dedicado ao manter actualizado o único blogue que referente à Guerra Colonial na Guiné, com um futuro encontro a realizar em 2006, em data a designar pela tertúlia. Determino e mando publicar.

Uma vez mais, Bom Natal

Sousa de Castro

"Este foi o Natal de 1972 em Bambadinca. Eu já não estava só". [O Castro é o primeiro do grupo, junto à parede]

© Sousa de Castro (2005)


17. José Teixeira:

Caro amigo Luís Graça

Deixa-me expressar-te a minha admiração pela ideia e sobretudo pelo trabalho que a ideia da Tertúlia te tem dado.

De facto para além de sermos cada vez mais, palavra puxa palavra, amigos encontram amigos e servem-se deste meio para comunicarem entre si.

O Bloguista trabalha, trabalha e trabalha a passar a palavra, a juntar fotografias ....Uf!, é um nunca mais acabar.

Parabéns e muito obrigado por me teres aceite na Tertúlia ou Tertolos pela Guiné.

Como sabes, estive lá em Abril passado. Tenho manga de histórias e de fotografias de Buba, Empada, Quebo, Saltinho, etc. Com tanto movimento no Blogue, vou tentar enviar aos poucos para não cansar muito.

Aliás tenho partes do meu Diário que terei muito gosto em pôr em comum, pois creio que com a tua atitude e boa vontade estamos a construir uma boa parte da verddadeira história da Guerra colonial na Guiné.

Acho que seria interessante pensarmos em tenta editar um livro com textos selecionados do Blogue. Não só faríamos história antes que outros se servissem do que escrevemos, como podíamos juntar algum capital que seria utilizado para ajudar os povos da Guiné que de algum modo ficaram no nosso coração.

Com este pequeno preâmbulo queria apenas desejar a ti e a toda a tua família mais aos que te são queridos, incluindo todos os bloguistas e sobretudo a todos os homens de boa vontade um Feliz Natal

José Teixeira
(22.12.2005, 9:27h)

16.

Daqui ex alfa lima foxtrote sierra alfa lima golfe alfa delta oscar

Quero desejar-vos a todos, CAMARADAS e AMIGOS DESTA TERTÚLIA, uma palavra de muita estima e consideração. Sobretudo, saudar-vos nesta quadra natalícia, eu e a minha mulher que me acompanha nestas lides pela Guiné - bem lá no centro do Hospital Simao Mendes - e dizer-vos que retomarei o meu contributo a partir do meu retorno a Bissau em 6 de Janeiro ( o Humberto que me desculpe, mas vim a 19 pois havia lá que fazer...acho que poderemos rever-nos nesse dia, contigo lá emboscado...vou gostar!). Retorno que pretende ligar o passado com o presente, falar do que vivi (vivemos) mas sempre pensando que o futuro tem que construir lá na Guiné como cá, de resto...

Obrigado a todos pelas vossas mensagens.

Paulo e Conceição
21.12.2005, 19:55h
O ex-Alf Mil Salgado, no Olossato, dando uma ajudinha ao serviço de saúde da CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72). Ontem como hoje, a mesma paixão pela área da saúde.

© Paulo Salgado (2005)


15. Daqui, o Castro (em resposta ao ranger):

Meu caro amigo, não adianta estar preocupado em falar destas coisas aos nossos filhos, falando por mim, embora, reconheçam que passámos por fases de sofrimento, mas, não passa disso, pelo menos no que toca aà minha pessoa. É por isso que este blogue é espectacular, aqui podemos dizer o que nos vai na alma, lermos as estórias de outros camaradas e assim ficamos mais aliviados. Vamos tentar passar um bom Natal e que o ano 2006 nos traga aquilo que mais desejamos. Bom Natal.

Sousa de Castro
21.12.2005, 19:00h


14. Boa noite, camaradas bloguistas,

Desculpem a minha ousadia, mas estou a acabar de ler os emails e vi que o “nosso” pessoal, a faltar oito dias, já está a ficar tocado pelo Natal.

Eu acho muito natural por várias questões que por vezes me atormentam (e, se calhar também a alguns de vós), por exemplo:

Como explicar aos nossos filhos e netos que já tivemos alguns Natais com outras famílias? E que essas famílias nos são tão queridas? E que essas famílias são na generalidade todos Homens/Irmãos lá, muito longe, no meio do mato em África?

Quantos de nós recordámos, recolhidos numa qualquer poltrona, esses Natais, e nos esforçámos por recordar, uma a uma, cada uma das caras desses nossos Irmãos, porque as nossas memórias já, mais ou menos gastas, s vão atraiçoando!

Será que conseguimos explicar por palavras a lágrima que nos rola pela face? E se arranjarmos coragem para narrarmos tais Ntais, valerá a pena? Será que eles compreenderão e/ou importarão com isso?

E, muito mais, mas... O que me irrita e desgosta é que os possa, de algum modo, levar a pensar que nós fomos uns "coitadinhos" ou uma geração de desgraçadinhos!

Eu penso que - excepto aqueles que fugiram, ou se safaram pelas famosas cunhas -, todos nós cumprimos, fosse em Bissau, fosse em Guileje ou Guidage. Uns com mais sorte, outros com muito menos! Uns com mais medos, outros com menos! Uns com mais coragem, outros com menos! Uns com o lápis, outros com a G3! Todos fomos importantes e camaradas... Estivemos lá e, mais ou menos bem... CUMPRIMOS!!!

Acabo, desejando-vos um Bom e Feliz Natal para todos vós!

Eduardo Ribeiro
O Pira de Mansoa (1)
(Mensagem de 21.12.2005, 00:54h)

(1) Vd. post de 22 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCV: O 'malandro do Ribeiro' que arriou a nossa bandeira em Mansoa

Guidage!):

Estamos numa época que marca sempre as pessoas, pelo que eu queria desejar, a todos os camaradas da tertúlia assim como a todos os guineenses em geral, Festas Felizes. Gostava de deixar um poema para ser meditado:

"Ninguém na vida é maior
nem maior
nem mais pequeno,

Não há
nem menos
nem mais

Quando chegamos, nascemos
Quando partimos, morremos
Somos todos bem iguais»

Albano Costa
(20.12.2005, 14:11)

Guiné-Bissau > Guidage > Novembro de 2000 > "Por detrás de um fotógrafo há sempre um poeta" (LG)...

© Albano M. Costa (2004-05)

12. Esta é uma boa ocasião para fazer a chamada dos nossos tertulianos. Acaba justamente de chegar o Luís Moreira, ex-alferes miliciano sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/71; e BENG, Bissau, 1971). Mandou-nos a todos um cartão bonito, com uma musiquinha dos Beatles: "Não queria deixar passar esta quadra sem desejar a todos um Feliz Natal e um Ano Novo com saúde e tão bom quanto possível" (20.12.2005, 21:15h).


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Reordenamento de Nhabijões > 1970 > O Alf Mil Sap Moreira, junto a um GMC.


© Luís Moreia (2005)

Trágica ironia: o sapador seria vítima, passado pouco tempo, de uma mina anticarro num Unimog, a 13 de Janeiro de 1971, à saída de Nhabijões.





11. Do nosso tertuliano (e meu consultor militar) A. Marques Lopes (20.12.2005, 15:00h):

Caro Luís

Verifiquei que enviei esta mensagem para todos os tertulianos menos para ti. Mais uma vez problemas com esta macacada informática (o macaco ignorante sou eu...). Mas aqui vai também para ti:

Caros camaradas e maravilhosos amigos desta tertúlia das lembranças da Guiné, com a evidência de que a recordação e a saudade valem mais do que a já ausência das penas sofridas. Estas são para a história, o que ficou no coração e agradavelmente na lembrança são as pessoas de quem gostámos e aquelas paisagens tocantes que o excelente DVD do filho do Albano [o Hugo Costa] nos fizeram lembrar. O meu grande agradecimento por estas vivências que vocês todos me têm facultado.

Cá espero o Luís Graça [em Matosinhos], é bom conhecermo-nos pessoalmente. Nesta quadra não, evidentemente, mas penso que era bom que esta companhia fizesse um encontro lá mais para a frente. Proponho que o nosso comandante Luís começasse a gizar o plano.
Um grande abraço do
A. Marques Lopes

"Atravessar ou não atravessar a bolanha, eis a questão". O nosso camarada A. Marques Lopes numa titude shakespeariana...

Na altura era alferes miliciano atirador de infantaria na CART 1690, Guiné, Geba, 1968...

© A. Marques Lopes (2005.

Há ainda uma segunda mensagem do nosso coronel, que também não me chegou a tempo e horas:

Camaradas amigos:

Transmito-vos este pedido do Anizio Indami. Se alguém souber de um Furriel Santos ou de um Alferes Loureiro da Companhia 2584 que esteve em Có, sector de Bula, que dê notícias, ou para mim ou directamente para o Indami.

Além disso aí está o desejo do pai dele de se encontrar com qualquer ex-combatente que vá à Guiné, sintomático da amizade entre os dois povos, apesar de terem combatido em campos opostos. Sinal também de que não havia assim tantas razões para isso...

Peço-vos, meus amigos, que façam um esforço para atender a este pedido do pai do Indami.
Um abraço do
A. Marques Lopes


10. Do João Tunes (ex-alf mil de transmissões da CCS do BCAÇ 2884, Pelundo, 1969/70; transferido depois para o batalhão de Catió, por 'razões disciplinares' de que muito se orgulha):

Obrigado Luís, por, graças ao blogue, teres permitido mais este (re)encontro (a pouco e pouco, os ex-combatentes vêm cá "caindo"!). Bem hajas.

Abraço para ti e para todos os camaradas tertulianos. Aproveito para desejar a todos umas excelentes Festas.

João Tunes
(20.12.2005, 12:39h)

Guiné > Catió > Ilhéu Infanda > Maio de 1970 > O João Tunes é o que está junto ao rádio, do lado esquerdo, em trono nu e auscultadores nos ouvidos.

© João Tunes (2005)




Cópia de mendagem enviada por Júlio Rocha (19 de Dezembro de 2005, 23:40h)
Assunto: CCAÇ 2586/BCAÇ 2884 - Pelundo

Amigo Tunes:

Só há dias através dum camarada que esteve comigo em Tavira tomei conhecimento do site do Luis Graça e por muita satisfação encontrei-te no blogue.

Eu fiz parte da CCAÇ 25887 e estive no Pelundo até 02/07/70, dia em que tive o acidente quando me encontrava precisamente no teu quartel nessa noite, tendo de manhã sido evacuado para o hospital militar de Bissau e depois de ter estado internado e operado, vim evacuado para a metrópole em 21/07/70.

Era Furriel Miliciano do pelotão do Alferes Trindade.

Costumo ir aos almoços do Batalhão [2884], se bem que ao último não pude ir. Devemos ser vizinhos, pois moro na Cova da Piedade. Bom natal para ti e vai dando notícias. Um abraço,
Júlio Rocha.


9. Do Sousa de Castro, ex-1º cabo radiotelegrafista, da CART 3494 (1972/74), aquartelada no Xime (1972/73) e depois em Mansambo (1973/74), pertencente ao BART 3873 (1972/1974), com sede em Bambadinca.

Guiné > Xime > Natal 1972

© Sousa de Castro (2005)

Que esta nova companhia ("OS TERTULIANOS") tenham um bom Natal na companhia de todas as pessoas de quem mais gostamos.

Sousa de Castro
Mensagem de 19.12.2005, 20:00h


8. Do Pepito (Carlos Schwarz, AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau):

Caro Luís

Obrigado pelo grande presente de Natal (**). Delirei!

Um feliz Natal e um excelente Ano Novo para ti e para todos os tertulianos
pepito

(19.12.2005, 19:47h)

(**) O mapa (digitalizado) de Guileje

7. Ainda do David Guimarães (mensagem de 19 de Dezembro de 2005, às 16:00h):


"um bom Natal para todos. Aí está um bagabaga, paisagem da Guiné.

"Quem lá foi ultimamente encontrará (espero que ainda lá esteja...) este bababaga junto ao Restaurante Lusófono, perto do Aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissalanca".


David J. Guimarães (2005)





6. O João Varanda, em mensagem datada já de 16 de Dezembro último, manda-nos "mais umas memórias do histórico da CCAÇ 2636, escritas com o respeito que na época vigorava entre nós na Guiné" (*). A aproveita o ensejo para nos desejar, a todos, "Feliz Natal e que o Ano Novo seja o melhor de sempre".

Assinado: Grande Amigo João Varanda

Guiné > Có > 1969/70 > João Varanda, em Có, vendo o horizonte de cima de uma bagabaga.

© João Varanda (2005)

__________

(*) Vd. post de 19 de Dezembro de 2005 >

Guiné 63/74 - CCCXC: CCAÇ 2636 (Bafatá, 1970/71) (6): Mimos do PAIGC em Mansomine

Guiné 63/74 - CCCLXXXIX: CCAÇ 2636 (Có, 1969/70) (5): Gastando o primeiro par de botas e as letras do alfabeto





5. Do Xitole, dos idos tempos de 1970/72, chegam-nos ecos (fraternos) de outros Natais:

UM MILITAR CHAMADO PAI NATAL

Belas palavras as que nos dirige Marques Lopes - nada melhor que agradecimento de facto pelo facto de estarmos juntos... e já somos alguns... Será este o melhor Natal que todos passamos na guerra - que a vivemos hoje e não há dúvidas sob Comando do Luís... Também dele fico à espera embora em tempos nos cruzássemos nos mesmos caminhos: a CCAÇ 12 e as célebres colunas ao Xitole e ao Saltinho; e eu tantas vezes a vê-los passar... Passaram-se 30 anos... e possivelmente só agora nos iremos conhecer [no Porto].

Ao Marques Lopes: Curioso, há tanto tempo que também já nos conhecemos... e quer o destino que ainda não nos encontrássemos... O Sousa e Castro e, enfim, tantos afinal que vivemos muitas vezes juntos, ou bem perto ... mas sempre a tempo de nos encontrarmos ou reencontarmo-nos....

Ainda bem que existe um Luís e bem hajas pelo bem que estás a fazer a todos, pelos vistos...

Agora somos muitos amigos que vamos viver um Natal juntos - aí sim, nessa tertúlia. Estamos juntos a viver os mesmos momentos...

Um Abraço e boas festas, hoje como que mais próximos dos natais que todos passamos naquelas terras quentes da Guiné. E foi a guerra que nos fez hoje tão unidos, o troar do canhão, o matraquear das metralhadoras e, enfim, a bazuca - não essa em que estão a pensar, mas a cervejinha, bem geliadinha, de calibre 60 (centilitros!)... Já bebia uma com vocês!

Feliz Natal

David J. Guimarães

(19 de Dezembro de 2005, 16h)

4. Lembram-se do nosso amigo, nascido no Xime, e que enquanto djubi viveu o drama da guerra no tempo em que por lá passaram a CART 2715 (1970/72), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74). ? E que teve como professor primário no Posto Escolar Militar nº 14 um furriel miliciano enfermeiro, de nome José Luís Carvalhido da Ponte, natural de Viana do Castelo ? Coincidência feliz, um e outro, são membros desta tertúlia. Claroq eu estou a falar do ano amigo, guineense, mandinga, José C. Mussá Biai, o qual acaba de nos enviar (dia 19, às 11h) a seguinte mensagem:

Caro Dr Luís Graça

Costuma-se dizer "quem vive em Roma é Romano". E eu acrescento, quem tem amigos católicos é católico.

Desejo a si em particular, bem como a todos os tertulianos, um Bom Natal e um Ano Novo Feliz. Com muita saúde e boas surpresas.


José C. Mussá Biai

Engº Florestal
Instituto Geográfico Português (IGP)
Departamento de Conservação Cadastral (DCC)
Tel. 213819600 Ext. 310
Fax. 213819693


3. Mensagem, enviada na 2ª feira, 19, às 13:46, pelo nosso amigo e camarada, ex-fuzileiro, Jorge Santos:

"A todos os Tertulianos e suas Famílias, votos de Feliz Natal e de um Bom Ano de 2006".

2. Mensagem, enviada no domingo, 18 de Dezembro de 2005 , às 17:25, pelo José Teixeira (ex-1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70):

Tudo di bom pra bó eh tudo fa´milia que ó na tem. manga di bacalau bátáta e piru.

1. O Jorge Neto, nosso tertuliano, jornalista free-lancer, vizinho do Paulo e da Conceição Salgado no Bairro da Cooperação em Bissau e autor do blogue Africanidades, manda a todos os seus amigos e visitantes uma simpática mensagens de BOAS FESTAS, que a seguir se reproduz:

"Natal, tempo de retribuir com pequenos gestos a atenção e o carinho. As 39 fotos seguintes, umas já publicadas outras inéditas, são-vos dedicadas. A todos vós, sem excepção, que ao longo dos últimos tempos têm passado por este espaço. A todos vós que gostam da Guiné-Bissau, de África, desta terra e destas gentes... São também dedicadas à Cláudia, que me atura as insónias por conta deste vício. São, por fim, dedicadas a todos os amigos que aqui fiz e que me ensinaram a amar este chão. A todos muito obrigado. Já agora, obrigado também pelas mais de 83 mil visitas em 2005.

"AFRICANIDADES pára por uns tempos. Voltaremos em breve. Boas Festas".

O nosso Blogue-fora-nada retribui, na parte que lhe toca, a amizade e a simpatia do Jorge Neto e a melhor homenagem que lhe podemos prestar, a ele e ao seu blogue (que nos mantém criticamente informados e atentos ao que se passa em especial na Guiné-Bissau de hoje) é reproduzir, com a devida vénia, duas das suas fotos que elegemos como emblemáticas.

Guiné-Bissau > 2005 > Sem legenda [Que podia sem qualquer coisa: "O futuro da Guiné-Bissau é ainda frágil e a estrada é longa e dura para a geração dos djubis que brincam, já não não com mortíferas armas, mas com os seus carrinhos de lata" ]


© Jorge Neto > Africanidades (2005)


Guiné- Bissau > 2005 > Sem legenda [Que podia ser qualquer coisa como: "Os guineenses precisam, como pão para a boca, de um Estado e de um sentido de Estado por parte das suas elites que, desde a independência, têm canibalizado o Estado e se têm autodestruído"]

© Jorge Neto > Africanidades (2005)