terça-feira, 8 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P260: Crianças de Farim ou como o mundo é pequeno (3) (Marques Lopes)


Anízio Indami, 22 anos, natural de Farim, estudante em S. Paulo...
Foto de 25 de Outubro de 2005.

Fonte: Fotolog do Indami.

1. Texto do A. Marques Lopes, com um título muito bonito:

O futuro da esperança...

Caros camaradas:

Enviei-vos ontem (isto é, já era hoje...) a última missiva do Indami, onde ele identificava os outros miúdos das fotografias. E é, como diz o Afonso Ferreira Sousa, «simplesmente maravilhoso ! Uma prova do que é esta extraordinária comunicação electrónica que aproxima povos e mundos. Coisas dos tempos !..."

E, nessa linha, eu junto o de como é importante esta comunicação para sedimentarmos o sentimento vital de que não estamos sós, na amizade, na solidariedade, na ajuda mútua. Para o Indami, já numa fase mais avançada da sua construção, e para aquelas crianças de Farim e para todas as outras da Guiné-Bissau, é um factor muito importante para alimentarem o futuro da sua esperança actual de uma vida melhor, para que essa esperança não morra.

Por isso, ainda não me tinha manifestado, estou de acordo em colaborar com a AD do Carlos Schwarz naquilo que puder, também na perspectiva do Humberto Reis. Mas parece-me que o Carlos Schwartz indicou já um bom caminho para isso.

Mandei-vos a missiva completa do Indami, precisamente para verificarem como é importante para a juventude guineense o mínimo gesto de amizade e de incentivo. É evidente naquilo que ele escreveu. Se lhe quizerem falar pelo "celular" (o cara está falando já brasileiro)... A propósito, acho que o Luís, se quiser acrescentar alguma coisa sobre isto ao blogue, não vai divulgar o "celular". Entre nós não haverá problemas, mas poderá haver com uma divulgação maior....

O Indami tem um blogue, muito incipiente ainda, mas podem visitá-lo para ver como é o rapaz (colocou lá uma das fotografias que lhe enviei, não as das crianças mas outra). O blogue (ou melhor, flog) chama-se o Fotolog do Indami.

Não é fácil a vida no Brasil, sociedade dita multirracial, constituída com gentes de várias origens e raças, de facto, mas com grandes discrepâncias e fossos sociais resultante de um racismo secular, não já institucionalizado abertamente mas implícito na prática soft (e nem sempre) dos poderosos e do dinheiro. Tenho alguns exemplos disso, pois tive, durante algum tempo, um brasileiro aboletado em minha casa. Há que dar ânimo ao Indami.

Abraços
A. Marques Lopes


2. Mensagem do A. Marques ao Indami (já divulgada pela nossa tertúlia):

Meu amigo Indami:

Já vi o teu flog e deixei uma mensagem. Sobre ele tenho duas coisas a perguntar-te, fruto da minha ignorância, claro:~

- O que é que quer dizer "Djagrás!!"? e "Kumus din din Bankô"? e "Lambé Garandi!"? é crioulo?

- O flog é só para fotografias? não podes lá falar sobre ti e sobre a tua terra?

Volto a perguntar-te qual a melhor hora para te falar pela seguinte razão: é que há cerca de seis horas de diferença entre Portugal e o Brasil e eu não quero que o teu telemóvel (em Portugal chamamos assim ao celular dos brasileiros...) toque quando estás nas aulas ou quando estás a dormir. Deve haver alturas em que estás mais livre para isso...

Sei que a vida no Brasil não é nada fácil, pois tenho em minha casa um brasileiro primo da minha mulher que veio daí para procurar trabalho em Portugal (que também não está bom) e ele tem-me contado coisas das dificuldades que se passam nesse país. Não sei se é o teu caso, mas até aqui em Portuigal os guineenses que têm bolsas de estudo do governo guineense têm tido problemas, pois o dinheiro não chega ou chega tarde. Deve ser difícil, sei, mas tu e os outros jovens que estão a estudar são o futuro da Guiné-Bissau, o futuro da esperança do povo guineense. Desculpa este desabafo, pois tu sabes isso muito bem. É apenas o desabafo de um estrangeiro que ama a Guiné e o seu maravilhoso povo.

Já falei aos meus amigos, os que também passaram pela Guiné, que tu tinhas conhecido e identificado as crianças nas fotografias que eu te mandei. Disse-lhes mesmo os nomes delas. Foi um espanto e uma satisfação muito grande por esta maravilha da tecnologia fazer aproximar as pessoas. E criar também amizades. Pois, caro Indami, tenho muito gosto em seres guineense e seres meu amigo.

Quando vieres a Portugal, ou por cá passares (não vais de férias à Guiné-Bissau?) terei todo o gosto em encontrar-me contigo. Eu sou do Alentejo, uma das terras mais pobres no sul de Portugal, mas vivo actualmente no norte, perto do Porto. Mas, se alguma vez passares por Portugal diz-me e arranjaremos encontar-nos.

Grande abraço do amigo
A. Marques Lopes

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