domingo, 18 de setembro de 2005

Guiné 63/74 - P175: Tabanca Grande: Paulo Salgado, ex-Alf. Mil. da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

Mensagem enviada ao responsável deste blogue pelo Dr. Paulo Salgado, administrador hospitalar (Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia):

1. Caríssimo Luís Graça,

Penso que nos cruzámos na ENSP [Escola Nacional de Saúde Pública]- por volta de 1982... Do outro lado da mesa [estava] o assistente, deste o aluno em A. H. [Administração Hospitalar]. Foi assim, não foi?

Mas nunca tivemos oportunidade de conversar ... o raio do peso institucional...da Escola.

Vou gostar de participar neste blogue.

Fiz a minha comissão no Olossato e Nhacra entre Abril de 1970 e Março de 1972.

Fiz uma segunda comissão em 1990/92, como cooperante na área da saúde. Matei fantasmas; chorei no Olossato; ri-me com as crianças que rodearam a minha viatura; revisitei o Suleiman que me reconheceu passados vinte anos!!! E depois vieram alguns homens grandes...e imensos...

Tenho ido várias vezes a Bissau desde 1996 - os amigos que tenho feito...! As desilusões que tenho sentido da parte dos guineenses. Mas também a esperança.

Irei fazer outra comissão de um ano, dentro de poucos dias...! Loucura? Utopia? Talvez.

Mas sejamos claros: indo de encontro aos objectivos que definiste: olhar a África e para África só faz sentido no plano de um vero e recíproco respeito.

Louvo-te a iniciativa. Agradeço com muito carinho. Mas sem lamechices.

Pois nós fizemos parte de uma História que não está contada. Há muitas histórias e estórias, encontros e desencontros; há quem queira olhar para trás e compreender; há quem deseja nem sequer pensar no que passou e no que se passou. Compreendamos todos. Pois somos diferentes.

Mantenhas.

Paulo Salgado
Alf. Mil.
CCAV 2721
Olossato e Nhacra

2. Caro Paulo: 

Claro que te (re)conheço. Fui dar uma vista de olhos às fotos dos alunos do XII Curso de Administração Hospitalar (1982) e lá estavas tu, com o visual típico da época... É um curso de gente ilustre... Perdi-te o rastro, mas sei que continuas a manter boas relações com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Eu, na época, não era sequer docente da ENSP, mas apenas um simples prelector convidado.

Fico muito sensibilizado pela tua sensibilidade, sinceridade e franqueza. Vais, com certeza, gostar de fazer parte desta tertúlia e nós já ganhámos mais um camarada, ex-combatente da guerra colonial (ou do ultramar, como queiras), que tem, além disso, no seu currículo, uma larga experiência de cooperação com a Guiné-Bissau e uma particular estima e amizade para com o povo guineense...

Não precisas de pedir licença para entrar: é um privilégio ter-te connosco! Sê bem-vindo. Reforço as tuas palavras: de facto, "fizemos parte de uma História que não está contada". E ninguém vai pôr em causa o direito a contarmos as nossas próprias estórias... Ganhámo-lo, muito antes do 25 de Abril e da reconquista da liberdade de expressão e da democracia: ganhámo-lo no Olossato, em Nhacra, em Bissorã, em Barro, em Bigene, em Barro, em Geba, em Bambadinca e em tantos outros lugares "exóticos" onde vivemos, sofremos, combatemos e resistimos; nos mais diversos sítios da Guiné desde o Xime ao Xitole, de Canssissé a Madina do Boé, de Guileje a Guidage...

Por fim, não percas a tua utopia (do grego ou-topos que tanto quer dizer lugar nenhum como lugar perfeito)... A utopia existe e não existe... É por isso que a perseguimos... Bom regresso, em breve, à Guiné. Vai dando notícias (e mandando umas fotos digitalizadas...). Vou-te pôr na nossa e-mailing list... Mantenhas!

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