sexta-feira, 24 de junho de 2005

Guiné 63/74 - P79: Nome di bó? Terça, simplesmente, Terça! (Em Sano, no Senegal) (Marques Lopes)

Os Jagudis, grupo de combate da CCAÇ 3 (Barro, 1968), comandado pelo Alferes Miliciano Lopes. Uma pausa no mato.

© A. Marques Lopes


Texto do Marques Lopes (ex-alferes miliciano da CCAÇ 3, Barro, 1968):

Esta menina estava às costas da mãe quando, em 20 de Agosto de 1968, eu e o meu grupo de combate [os jagudis] investimos contra a tabanca de Sano, já no Senegal.

No meio do tiroteio, provocado pela resistência de alguns elementos do PAIGC que lá se encontravam, a mãe dela abriu o pano com que segurava a filha para melhor poder fugir. E conseguiu fugir... mas deixou a filha a chorar no chão.

Trouxemos a criança para Barro. Tinha um ano e meio, talvez dois anos, não sei. Foi bem tratada, vestida e calçada.
- Nome di bó? - Muita insistência e dificuldade em conseguir-lhe uma palavra.
- Que nome dar-lhe, então?
- Hoje é terça-feira, disse alguém, pode chamar-se Terça-feira - E ficou Terça, para facilitar.

Pois a miúda Terça ficou alguns dias em Barro mas foi na primeira Dornier para Bissau para ser entregue a uma qualquer instituição religiosa.

O Cacuto [Seidi, chefe da tabanca de Barro, e suspeito de ter ligações ao PAIGC] não gostou da ideia, pois era uma bajuda que lhe iria dar proventos quando a casasse...

Lá andará hoje, por Bissau, uma já mulher feita, mãe de filhos, certamente, de nome Terça. O nome não foi totalmente descabido. De facto, em 1998, quando estive na Guiné, o jovem guia que me acompanhava chamava-se Cinq. Só falava francês e crioulo.
- Porquê Cinq? - perguntei-lhe eu.

Estudara no Senegal, daí falar francês, nascera no dia 5 de Maio (5) e os pais deram-lhe o nome de Cinq.

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